quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

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São dias que você sente que a vida está seguindo seu rumo enquanto você está aí vendo tudo passar sem voltar nunca mais. E você sente que está sendo atropelado pelas horas, que elas estão passando por você. E passando, é passado. Você acha que é futuro, mas a verdade é que você é passado. Sentindo que é tudo provisório, que sua vida é provisória, achando que nada disso aí te pertence e que você só precisa ficar administrando para que não aconteça nenhuma catástrofe, mas que atitudes maiores e mais nobres são desnecessárias porque acha que tudo isso não pertence a você, que a sua vida real um dia vai chegar e repousar sob seu colo assentado no sofá. E enquanto você sonha com a sua vida real, a sua vida de imaginação passa sem que você nem perceba. Passa por você, passa do seu lado, passa na sua cara, passa em cima de você, e te esmaga! Mas você nem liga, você não se liga a nada daquilo, não é seu, né? E quer saber, talvez nem seja mesmo! Talvez você esteja aí só para ocupar o lugar de outra pessoa, seu impostor! E aquele texto que você escreveu um dia e guardou, aquele mesmo que você só reencontrou agora, e que exatamanete agora você leu e releu milhares de vezes, aquele que hoje você sequer pode publicar no seu próprio blog, foi o melhor retrato dos últimos meses da sua vida e ainda é. E a vida que você sonha, esperando que seja a sua vida real, é a vida que esse texto poderia ter te dado se tivesse sido enviado e conseguido transformar alguma coisa. Mas você nunca enviou, você nunca mostrou, você deixou que as coisas acontecessem por elas mesmas. E agora você está aí, escrevendo um texto que ninguém vai entender, muito menos gostar de ler. Escrvendo um texto sem a mínima poesia, sem o menor cuidado com a língua, um texto horroroso. Enquanto aquele escrito lindo, talvez o melhor que você já tenha feito, recheado de amor, de arte e de potencial para transformar a vida do seu leitor, voltará para gaveta quando você cansar de lê-lo, ou quem sabe não acabe amassado no lixo, seu lixo. Você deu a sua vida pela vida relatada ali. E no final, ficou sem as duas. Você é mesmo um imbecíl.